quarta-feira, 13 de junho de 2012

Perfil Biográfico

por Auriseu Nogueira Pinheiro


Na estrada da vida caminhos se cruzam e eu agradeço a Deus por ter cruzado no meu caminho esse guerreiro chamado Francisco Alaôr Pinheiro. Ele é agricultor aposentado e reside com sua filha e seu genro no Sítio Cachoeira, um lugar calmo e tranquilo no município de Solonópole. Sua relevância social é de uma pessoa respeitada e, acima de tudo, admirada por todos.
Aos 89 anos não esconde as marcas da vida: rosto envelhecido, cabelos brancos, corpo fragilizado... praticamente não sai de casa. Mas sua personalidade nãos e resume a uma pessoa triste e solitária. Ele carrega consigo uma particularidade primordial: um carisma que contagia a todos. Seu jeito risonho, alegre e extrovertido esconde marcas tristes deixadas por um passado turbulento. Mas mesmo depois das dificuldades vividas, ele ainda carrega um sorriso no rosto.
Seu passatempo preferido é o baralho. Desde criança até hoje ele vê nessa diversão um modo de relaxar e esquecer os problemas da vida. E foi durante um jogo de cartas, quando ele e eu jogávamos, que ele fez o triste relato de sua vida.
Tudo começou no sítio Santa Cruz, em Solonópole, onde ele nasceu (no dia 22 de dezembro de 1922) e passou a residir com seu pai, sua mãe e seus irmãos. Como a família era grande e a condição financeira era pouca, precocemente começou a trabalhar na agricultura a fim de ajudar no sustento familiar. E assim foi sua vida até o matrimônio.
Em setembro de 1950 ele se casou com Maria Vilanir Pinheiro, também filha de agricultor que não tinha boas condições financeiras – aspecto sem importância para dois jovens pobres que tinham garra, disposição para lutar e começar a constituir uma família. E não era só essa garra de lutar que eles tinham em comum; ambos sentiam um amor sincero e mútuo.
Depois que se casaram, Alaôr e Vilanir foram morar no Sítio Cachoeira. Se antes do casamento ele já trabalhava muito, depois passou a trabalhar mais ainda, pois, além de sustentar a si própria e a sua esposa, começaram a nascer seus filhos. Quanto mais filhos nasciam, mais as necessidades aumentavam. E ele trabalhava mais e mais para garantir pelo menos a alimentação de sua família. Seus filhos foram crescendo e seguindo a mesma saga do pai; precocemente começaram a trabalhar na agricultura para ajudar no sustento da família.
Em 1974 o casal já tinha treze filhos, além de um que morreu quando tinha apenas sete anos de idade. Nessa época, Vilanir estava grávida novamente, mas infelizmente foi sua última gravidez. No dia 26 de setembro de 1974, após ter dado a luz ao seu filho já morto, ela faleceu vítima de uma eclampsia.
Alem de ter que suportar a dor da perda, ele ainda tinha que aceitar a realidade de tocar a vida para frente sozinho com treze filhos pequenos. Continuando com essa luta muito difícil, teve a ajuda de sua filha de 14 anos de idade, que se empenhou em ajudar na criação de seus irmãos pequenos.
Dois anos depois, outra dor inigualável para o pai que ainda sofria com a morte de sua esposa: a perda de uma de suas filhas. Ela era deficiente física e tinha muita vontade de estudar. Mas como naquela época tudo era mais difícil, ele acabou não tendo a oportunidade de realizar esse sonho e, em um ato desesperado, cometeu suicídio.
A luta foi muito difícil, mas a fé em Deus e a vontade de lutar para criar e ensinar o caminho do bem para seus filhos superou todos os obstáculos. Os filhos foram crescendo e saindo daquele sítio em busca de melhorias... cada um construindo sua família.
Em 2010, aos 87 anos de idade, Alaôr teve que superar outro obstáculo: a luta pela vida. Descobriu que tinha câncer, mas, não se deixando abalar e com fé em Deus, venceu mais uma etapa de sua vida. O jogo de cartas ia chegando ao fim e ele finalizou seu relato com a seguinte frase: “Lutar sempre, vencer talvez, desistir jamais”. Nestas poucas palavras ele fez o resumo de sua vida.
Hoje, aos 89 anos, ele olha para trás e vê que toda a luta valeu a pena. Com 12 filhos, 19 netos e 4 bisnetos felizes e orgulhosos pela trajetória vitoriosa desse guerreiro. E provando o reconhecimento ao patriarca, seus familiares deram depoimentos semelhantes: descreviam-no como uma pessoa batalhadora e que lutou muito na vida para garantir dignidade a sua família. E para finalizar, só quero ressaltar que, para mim, ele é mais que um guerreiro... é mais que um batalhador... é mais que um vitorioso... é mais que um ídolo.
Ele é meu avô.

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