por Auriseu Nogueira Pinheiro
Aos 89
anos não esconde as marcas da vida: rosto envelhecido, cabelos brancos, corpo
fragilizado... praticamente não sai de casa. Mas sua personalidade nãos e
resume a uma pessoa triste e solitária. Ele carrega consigo uma particularidade
primordial: um carisma que contagia a todos. Seu jeito risonho, alegre e
extrovertido esconde marcas tristes deixadas por um passado turbulento. Mas
mesmo depois das dificuldades vividas, ele ainda carrega um sorriso no rosto.
Seu
passatempo preferido é o baralho. Desde criança até hoje ele vê nessa diversão
um modo de relaxar e esquecer os problemas da vida. E foi durante um jogo de
cartas, quando ele e eu jogávamos, que ele fez o triste relato de sua vida.
Tudo
começou no sítio Santa Cruz, em Solonópole, onde ele nasceu (no dia 22 de
dezembro de 1922) e passou a residir com seu pai, sua mãe e seus irmãos. Como a
família era grande e a condição financeira era pouca, precocemente começou a
trabalhar na agricultura a fim de ajudar no sustento familiar. E assim foi sua
vida até o matrimônio.
Em
setembro de 1950 ele se casou com Maria Vilanir Pinheiro, também filha de agricultor
que não tinha boas condições financeiras – aspecto sem importância para dois
jovens pobres que tinham garra, disposição para lutar e começar a constituir
uma família. E não era só essa garra de lutar que eles tinham em comum; ambos
sentiam um amor sincero e mútuo.
Depois
que se casaram, Alaôr e Vilanir foram morar no Sítio Cachoeira. Se antes do
casamento ele já trabalhava muito, depois passou a trabalhar mais ainda, pois,
além de sustentar a si própria e a sua esposa, começaram a nascer seus filhos.
Quanto mais filhos nasciam, mais as necessidades aumentavam. E ele trabalhava
mais e mais para garantir pelo menos a alimentação de sua família. Seus filhos
foram crescendo e seguindo a mesma saga do pai; precocemente começaram a
trabalhar na agricultura para ajudar no sustento da família.
Em 1974 o
casal já tinha treze filhos, além de um que morreu quando tinha apenas sete
anos de idade. Nessa época, Vilanir estava grávida novamente, mas infelizmente
foi sua última gravidez. No dia 26 de setembro de 1974, após ter dado a luz ao
seu filho já morto, ela faleceu vítima de uma eclampsia.
Alem de
ter que suportar a dor da perda, ele ainda tinha que aceitar a realidade de
tocar a vida para frente sozinho com treze filhos pequenos. Continuando com
essa luta muito difícil, teve a ajuda de sua filha de 14 anos de idade, que se
empenhou em ajudar na criação de seus irmãos pequenos.
Dois anos
depois, outra dor inigualável para o pai que ainda sofria com a morte de sua
esposa: a perda de uma de suas filhas. Ela era deficiente física e tinha muita
vontade de estudar. Mas como naquela época tudo era mais difícil, ele acabou
não tendo a oportunidade de realizar esse sonho e, em um ato desesperado,
cometeu suicídio.
A luta
foi muito difícil, mas a fé em Deus e a vontade de lutar para criar e ensinar o
caminho do bem para seus filhos superou todos os obstáculos. Os filhos foram
crescendo e saindo daquele sítio em busca de melhorias... cada um construindo
sua família.
Em 2010,
aos 87 anos de idade, Alaôr teve que superar outro obstáculo: a luta pela vida.
Descobriu que tinha câncer, mas, não se deixando abalar e com fé em Deus,
venceu mais uma etapa de sua vida. O jogo de cartas ia chegando ao fim e ele
finalizou seu relato com a seguinte frase: “Lutar sempre, vencer talvez, desistir
jamais”. Nestas poucas palavras ele fez o resumo de sua vida.
Hoje, aos
89 anos, ele olha para trás e vê que toda a luta valeu a pena. Com 12 filhos,
19 netos e 4 bisnetos felizes e orgulhosos pela trajetória vitoriosa desse
guerreiro. E provando o reconhecimento ao patriarca, seus familiares deram
depoimentos semelhantes: descreviam-no como uma pessoa batalhadora e que lutou
muito na vida para garantir dignidade a sua família. E para finalizar, só quero
ressaltar que, para mim, ele é mais que um guerreiro... é mais que um
batalhador... é mais que um vitorioso... é mais que um ídolo.
Ele é meu
avô.
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